terça-feira, 27 de outubro de 2009

Reflexão sobre mudanças no Código Florestal no âmbito da Caatinga




Por Francisco Barreto Campelo 


É importante que os envolvidos na luta pela conservação da Caatinga, não fiquem distantes desse debate. Podemos ser surpreendidos por conceitos e imposições que favoreçam o desaparecimento de nossas Caatingas.
Penso que temos uma oportunidade para valorizar no Código Florestal o Manejo Florestal Sustentável. Esse instrumento, que possibilita a gestão das florestas, complementando o processo de conservação e mantendo os serviços ambientais, é mais falado do que utilizado. Precisamos impulsionar a pratica do manejo florestal para reverter o processo de degradação no bioma Caatinga e lutar para que as atividades produtivas sigam padrões de sustentabilidade. Os estudos do PROBIO demonstra que temos áreas suficientes no bioma que podem atender a todas as condicionantes ambientais e as demandas por produtos florestais. O que precisamos é ordenar os usos com critérios de sustentabilidade.
O manejo florestal sustentável é necessário não somente para a obtenção de lenha ou outros produtos madeireiros, ele é fundamental também para a pecuária extensiva e para os produtos não madeireiros. A Caatinga tem um potencial florestal que gera renda com inclusão social, precisamos valorar esses ativos ambientais.
Estudos da rede de Manejo da Caatinga já demonstram que a Caatinga submetida ao manejo por meio da talhadia simples, se regenera e mantém a biodiversidade e os serviços ambientais, comparáveis a áreas totalmente protegidas. Assim, devemos aproveitar esse momento para não permitir que afastem os produtores rurais dos negócios ambientais/floresta is. Precisamos superar os preconceitos e dar credito aos estudos realizados na Caatinga.
O comportamento que vemos para o manejo florestal ainda é pequeno e preconceituoso diante da intensidade de uso que se faz dos recursos florestais. Não damos conta de que no Nordeste o manejo florestal é praticado nas áreas de uso alternativo do solo, onde é permitida ao produtor rural a eliminação da floresta para implantação de pasto ou agricultura e nesse momento de intensa alteração da paisagem não questionamos: a biodiversidade, a viabilidade econômica, a sustentabilidade ambiental e econômica, a compactação do solo, entre outras. A Caatinga tem um potencial forrageiro que possibilita termos nossa pecuária, sem a necessidade de desmatar para formar pastos.
Assim, sem percebermos e sempre querendo o bem para o meio ambiente, empurramos os produtores para o desmatamento. Devemos aproveitar esse momento para impormos de fato critérios para o uso sustentável da Caatinga:
Porque suprimir a Caatinga para formar pasto se a mesma tem um potencial forrageiro. Onde está a viabilidade econômica e ambiental desse pasto que se diz superior a Caatinga?
Estudos demonstram que com até 30% de sombreamento não existe alteração na produção forrageira dos pastos, porque permitir o suprimento total da vegetação para essa finalidade?
A capacidade de carga animal na Caatinga já é conhecida, mas mesmo assim, temos sempre novos projetos sendo apoiado, o que faz com que em várias áreas a capacidade esteja superada. Onde esta a sustentabilidade, quem pode frear esse desmatamento silencioso?
Como podemos assegurar o desenvolvimento regional se a economia da região utiliza a lenha sem nenhum planejamento ambiental? A Matriz energética precisa ser atendida em base sustentável, é inadmissível que nos dias atuais ainda tenhamos a segunda fonte energética dessa matriz sendo atendida por atividades de supressão da vegetação e sem uma atenção maior por parte do planejamento energético. Precisam criar mecanismos para um programa que valorize a lenha, nosso bicombustível solido.
O Manejo Florestal é uma atividade produtiva em base sustentável que colabora com o processo de conservação. Com o manejo florestal uma propriedade rural pode ser produtiva, com a utilização de 5 ou 7% de sua área e mantendo praticamente 95% com cobertura florestal.
Precisamos fortalecer o Manejo Florestal Sustentável, esse importante instrumento de gestão ambiental que assegura a produção florestal sem comprometer os serviços ambientais, promovendo a conservação da biodiversidade com inclusão social.
Assim, gostaríamos de sugerir um debate a ser realizado conjuntamente com a Universidade Rural de Pernambuco, o Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Caatinga e a Associação Nordestina dos Eng. Florestais – ANEF, para apresentarmos sugestões que qualifiquem o Código Florestal, incorporando os avanços da Ciência Florestal em seu contexto.

Leia também: Valor Econômico - Pacote de Lula tenta pôr fim à disputa do Código Florestal
                                                  Minc detalha proposta do MMA sobre Código Florestal e Reserva Legal

                                                  Governo facilita regularização ambiental do agricultor







A Universidade Federal Rural de Pernambuco e o Comitê Estadual celebram o Dia Nacional da Caatinga

Marcelo, Suassuna, Rita, Ednilza e Márcio (CERBCAA/PE) João Suassuna (Fundaj) Márcia Vanusa (UFPE) Francis Lacerda (IPA) e Jo...